quarta-feira, 01/06/2022
Projeto do LIP-Minho/ECUM sai
amanhã, dia 1 de junho, pelas 10h30, da Escola Secundária Benjamim Salgado (Famalicão) e deve
chegar aos 40 km de altitude.
A Escola de Ciências da
Universidade do Minho (ECUM), através do polo do Laboratório de Instrumentação
e Física Experimental de Partículas (LIP-Minho), assinala o Dia Mundial da
Criança, a 1 de junho, com uma iniciativa diferente: o lançamento de um balão
estratosférico, que vai fazer medições da radiação em altitude. O momento está
agendado para as 10h30, na Escola Secundária Padre Benjamim Salgado (ESPBS), em
Joane, Famalicão.
O dispositivo possui sensores que
medem a temperatura, a pressão atmosférica e um módulo que recebe sinal de
satélites de GPS, entre outros aspetos. O projeto começou a ser desenvolvido em
2019, em colaboração com a ESPBS, parou devido à pandemia de Covid-19, mas vai
ser agora concretizado, pela mão de 29 alunos do 12º ano de Física daquela
escola.
A iniciativa teve duas etapas: a
primeira, da responsabilidade da escola e do Instituto Superior Técnico,
consistiu na aquisição do balão e no planeamento da rota; a segunda coube ao
LIP-Minho e abrangeu a criação do aparato experimental, com um sistema de GPS,
que será colocado dentro de uma caixa e içado pelo balão. O material é composto
por um tubo de Geiger e por placas eletrónicas de arduinos para detetar
partículas e fazer contagens da radiação em altitude.
Análise em tempo real
Estas contagens serão efetuadas
em tempo real, através de um sistema redundante criado pelos investigadores,
com uma antena transmissora por rádio, colocada no aparato, que transmite para
um recetor ligado a um computador. “Vamos acompanhar esta aquisição de dados
durante o voo, que pode durar cerca de seis horas (uma a subir até quase aos 40
km e quatro ou cinco horas a descer)”, refere Raul Sarmento, um dos
investigadores do LIP-Minho envolvidos. Os dados recolhidos serão
posteriormente analisados pelos alunos da ESPBS.
Esta experiência baseia-se na que
foi desenvolvida em 1911 pelo físico austríaco Victor Francis Hess, que seria
distinguido em 1936, juntamente com o norte-americano Carl David Anderson, com
o Prémio Nobel da Física, pela descoberta da radiação cósmica. Hess utilizou um
balão com detetores de radiação, que subiu quatro a cinco quilómetros. À medida
que este ascendia, aumentava a contagem de radiação no detetor. “Foi uma grande
descoberta, permitiu concluir que há uma fonte muito importante de radiação
natural que não tem origem na terra, mas no espaço exterior. Ele percebeu que
há uma chuva de partículas invisíveis que se propagam no universo e estão
constantemente a cair na terra”, avança Raul Sarmento, acrescentando que a 1 de
junho haverá “uma espécie de reprodução moderna desta experiência histórica”.
Ao longo dos anos têm sido desenvolvidas experiências do género e com
resultados semelhantes.
Para já, o projeto vai continuar
com a ESPBS. “Estamos com boas expetativas e vamos ver se poderemos alargar a
outras escolas”, refere Raul Sarmento. No próximo ano letivo, pretende-se que
sejam os alunos a realizar todo o processo, uma vez que, nesta primeira
experiência, já ficaram responsáveis pelo lançamento do balão e pelo
acompanhamento, análise dos dados e discussão dos resultados. “Os estudantes
conseguem programar, montar, fazer medidas de temperatura e programar leds
com base numa eletrónica de baixo custo. É um projeto muito rico do ponto de
vista pedagógico, concretizando-se todos os passos de uma experiência
científica”, conclui.
* Fotos: www.dicas.sas.uminho.pt/big/academia/2022/uminho-lanca-balao-estratosferico-para-contar-radiacao-em-altitude