quinta-feira, 01/09/2022
Centro de Biologia Molecular e Ambiental da Escola de Ciências da UMinho
Além do impacto humanitário e económico, o meio ambiente está fortemente
ameaçado, alertam cientistas da UMinho em revista internacional.
O conflito armado na Ucrânia está a provocar elevados impactos ambientais,
além dos humanitários e económicos, o que poderá conduzir a um ecocídio, ou
seja, à destruição do ambiente natural por ação humana deliberada ou
negligente. O alerta é dos investigadores Ronaldo
Sousa e Janine Silva, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da
Escola de Ciências da Universidade do Minho, num artigo agora publicado na conceituada revista científica “Frontiers in Ecology and the Environment”.
Conflitos armados desta dimensão causam efeitos negativos na
biodiversidade e nos ecossistemas. Na Ucrânia, os principais problemas são a
possível contaminação dos habitats terrestres e aquáticos por derrames de
petróleo e metais pesados, entre outros, fruto da destruição de zonas de
armazenamento de combustíveis, infraestruturas de transporte e complexos
industriais e urbanos, explica Ronaldo Sousa.
Por outro lado, várias espécies de peixes e mamíferos como o
icónico bisonte europeu, com amplas distribuições geográficas e que estão
ameaçados, podem ser fortemente prejudicados pela fragmentação do habitat e
perda de concetividade causados pelo conflito, realça.
Outro problema prende-se com a deslocação de pessoas e o
movimento de soldados e equipamentos militares, que podem ser responsáveis pela
introdução de espécies não nativas. Segundo Ronaldo Sousa, os efeitos de longo
prazo podem incluir igualmente o declínio nas populações de animais selvagens,
através do aumento da caça ilegal, pesca e exploração de recursos naturais, a
fragmentação de habitats devido à construção de muros ao longo das fronteiras,
a presença de minas terrestres e a desflorestação.
A grande dificuldade na exportação de cereais, dos quais a
Ucrânia é um grande produtor mundial, poderá ter impactos em países mais pobres
e até distantes, levando a uma maior exploração de recursos noutros locais,
vinca o também professor do Departamento de Biologia da UMinho.
UNESCO sem sistema de apoio à biodiversidade perante a guerra
A juntar a isto, foram tomadas muitas ações a nível político,
financeiro e comercial para encerrar projetos de colaboração com organizações
russas, interrompendo projetos científicos e com consequências diretas na
conservação da biodiversidade ucraniana e russa. Finalmente, a Ucrânia opera 15
reatores nucleares e a Rússia possui um vasto arsenal, havendo por isso o risco
de um desastre nuclear.
Com uma guerra “sem fim à vista”, os dois investigadores do CBMA
consideram “importante chamar à atenção das pessoas sobre os danos
irreversíveis aos ecossistemas, não esquecendo os humanitários”. A UNESCO tem
implementado um sistema de ajuda para o património arquitetónico, quando este é
destruído em contexto de conflito, mas o mesmo não acontece com a conservação
da biodiversidade, concluem.