quinta-feira, 23/11/2023
Centro de Física da Escola de Ciências da Universidade do Minho
Sara Núñez-Sánchez coordena o projeto
europeu Adaptation
Imagine um nanodispositivo flexível
sobre a sua pele, um carro ou um edifício, que fornece energia e regula a
temperatura. Inspirada na fotossíntese das plantas, a ideia pode vir a ter
impacto na sustentabilidade e está a ser materializada por Sara Núñez-Sánchez,
do Centro de Física da Escola de Ciências da Universidade do Minho.
A cientista coordena o consórcio Adaptation,
que junta nove parceiros de cinco países e tem 3.6 milhões de euros do Programa
Pathfinder da União Europeia, dedicado a inovações disruptivas na sociedade.
Este projeto inspirado na natureza quer facilitar a adaptação às mudanças
causadas pela crise climática. O dispositivo deverá ser capaz de absorver a
energia solar e de a converter em eletricidade, além de se resfriar, evitando
perdas de energia.
Se pensarmos num painel solar, este
perde eficiência ao aquecer, pois é incompatível ter as tecnologias de recolha
de energia fotovoltaica com as de gestão eficiente da temperatura. Como
combinar tudo num material, ou seja, captar energia solar e ter boa resposta
térmica?
Sara
Núñez-Sánchez refere que, no caso das plantas, a sua sobrevivência não depende
tanto da quantidade de energia que absorvem, mas sim de transportarem essa
energia de forma muito eficiente, graças a fenómenos quânticos não triviais
(biologia quântica) na fotossíntese. São esses fenómenos que os investigadores
querem imitar a nível molecular, vendo como o tecido fotossintético natural se
organiza, para daí gerar materiais-base do dispositivo inovador.
Esse dispositivo
vai ter diversas estruturas nanométricas e as propriedades necessárias para a
absorção e transporte de energia (de modo a produzir eletricidade) e de
controlo térmico (para resfriar sem gastar energia, replicando-se o processo
que a Terra faz no deserto, por exemplo), nota o Conselho Superior de
Investigações Científicas (CSIC) de Espanha, parceiro no projeto.
Aplicados nas
superfícies como tintas
A intenção é que
os nanodispositivos do Adaptation sejam aplicados nas superfícies dos objetos
como se fossem tintas. Ao cobrir elementos urbanos, desde carros a casas,
fornecerão energia a estes objetos, ao mesmo tempo que controlarão a sua
temperatura e adaptando-se às necessidades climáticas de cada região.
“Poderá ser uma
solução para muitos problemas energéticos atuais e vários dos desafios da
Agenda 2030 da ONU”, diz Sara Núñez-Sánchez. “Estabeleceremos as bases de uma nova
tecnologia que terá impacto em áreas além das tecnologias de gestão de energia,
tais como a forma como transportamos informação de uma forma mais sustentável,
reduzindo assim a nossa dependência de materiais críticos”, conclui.
O consórcio alia
a UMinho e o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), em
Portugal; o CSIC, a Universidade de Vigo e as empresas Avanzare Innovation
Tecnologica e Cooling Photonics, em Espanha; as universidades de Estrasburgo
(França) e Utrecht (Países Baixos); e ainda a empresa Sunpluggedsolare
Energiesysteme (Áustria).