quinta-feira, 24/04/2025
Centro de Matemática da Escola de Ciências da UMinho
Chegou à Universidade do
Minho em 2001 e em setembro do ano passado foi eleito Diretor do Centro de
Matemática (CMAT). Com um percurso ligado à investigação e ao desenvolvimento
da matemática, Thomas Kahl dispôs-se a liderar o centro num momento de desafios
e novas oportunidades para a comunidade científica. Neste newsletter fomos
conhecer este centro da Escola de Ciências da UMinho.
Quando é que surgiu o Centro
de Investigação? Com que objetivos?
O CMAT foi criado em 1991
como Centro de Investigação da Junta Nacional de Investigação Científica e
Tecnológica (JNICT), a entidade financiadora anterior à Fundação para a Ciência
e a Tecnologia (FCT). Penso que o principal objetivo do centro foi sempre o de
produzir e promover investigação em matemática.
Mudou muito desde o início
até à atualidade? O que recorda desses tempos?
É evidente que muita coisa
mudou ao longo de mais de 30 anos! Eu cheguei à Universidade do Minho em 2001 e
o centro já tinha 10 anos. O diretor era o professor Rui Ralha, que me fez
sentir muito bem acolhido. Muitos dos que são hoje membros do CMAT, eram nessa
altura estudantes de doutoramento. E até isso mudou! Na altura, os estudantes
de doutoramento já tinham um lugar de carreira na universidade. Agora, é muito
mais precário! Seguiu-se o professor Luís Pinto na direção do centro e foi
nessa altura que integrei a Comissão Diretiva. Foi lançada uma candidatura a financiamento plurianual,
no âmbito da qual o CMAT se fundiu com a Officina Mathematica, um centro de
investigação que existia em Azurém. Em 2015, o centro passou a ter também o
polo da UTAD.
Desde
que estou na UMinho,
o CMAT manteve sempre a classificação de "Muito Bom", exceto numa
ocasião, em que fomos avaliados como "Bom". Foi um período difícil,
pois contávamos com muito poucos recursos financeiros.
Quais são as infraestruturas e recursos
do Centro? São suficientes?
Temos duas salas para estudantes de
doutoramento e alguns gabinetes para investigadores e visitantes. Temos também
uma sala que serve de oficina para o OutLab, a nossa equipa de divulgação. Em
matemática não precisamos de laboratórios para realizar experiências, como
noutras ciências. Estamos em vias de adquirir um computador potente, com um
elevado número de núcleos e muita memória RAM, que irá permitir computação
paralela e que poderá ser utilizado por vários investigadores em simultâneo. De
resto, não necessitamos de qualquer outro equipamento especial para realizar a
nossa investigação.
A nossa principal fonte de financiamento
é a FCT, quer através do financiamento plurianual, quer através de projetos.
Nesta fase de transição para o novo ciclo de financiamento plurianual, os nossos
recursos financeiros não são, de todo, suficientes para financiar as
atividades, pois a universidade atribuiu aos centros apenas o montante
correspondente ao financiamento base do período anterior, quando, no caso do
CMAT, uma grande parte do financiamento era programático.
Este ano, a Escola de Ciências
atribuiu-nos quase 10 mil euros para o primeiro semestre. Não nos permite
financiar na totalidade as atividades planeadas, mas agradecemos e apreciamos a
ajuda.
Que equipas e grupos de investigação
integra?
O centro está estruturado em quatro
grupos de investigação, reunindo investigadores de matemática fundamental e
aplicada: ALC - Álgebra, Lógica e Computação; ANAP - Análise e Aplicações; GTA
- Geometria, Topologia e Aplicações; e SAPOR - Estatística, Probabilidade
Aplicada e Investigação Operacional.
Que balanço pode ser feito da atividade
desenvolvida até ao momento?
O meu mandato ainda não tem meio ano,
pelo que ainda é muito cedo para fazer um balanço. Relativamente ao período
2020-2024, o último período de financiamento plurianual da FCT, penso que o
balanço é muito positivo. A produtividade científica cresceu, quer quantitativa
quer qualitativamente. Conseguimos também aumentar a captação de financiamento
externo através de projetos e redes de investigação. De facto, fiquei
agradavelmente surpreendido quando descobri que, ignorando os gastos em
recursos humanos, o nosso financiamento externo, obtido através de projetos,
era idêntico ao financiamento plurianual. Nos últimos anos, alargámos também as
relações com a indústria. Vários membros estiveram envolvidos em projetos
competitivos com parceiros industriais de diversos sectores, incluindo as
pescas, o fabrico de automóveis, a agricultura e as energias renováveis. Na
minha opinião, o avanço mais importante dos últimos tempos foi o facto de
termos conseguido aumentar muito significativamente o número de estudantes de
doutoramento. De facto, o número de doutorandos na equipa da atual candidatura
a financiamento plurianual duplicou em relação à candidatura anterior.
Quais são os eventos que podem ser
destacados?
A organização de conferências é
estratégica para o CMAT e por isso reservamos um orçamento especial para este
fim. No ano passado, organizámos vários eventos internacionais, entre os quais
o International Symposium on Nonparametric Statistics, que decorreu de 25 a 29
de junho no Altice Forum e contou com cerca de 400 participantes. Em 2024,
acolhemos também um grande evento nacional: o Encontro Nacional da Sociedade
Portuguesa de Matemática. Gostaria ainda de destacar dois eventos que
organizamos todos os anos: o Open Day do CMAT e o CMAT LabsFest. O Open Day
realiza-se alternadamente na UMinho e na UTAD e tem como objetivo reunir os
membros do CMAT, bem como os nossos alunos de doutoramento e bolseiros,
dando-lhes a oportunidade de apresentarem a sua atividade científica e
discutirem as suas áreas de especialização. O CMAT LabsFest é organizado pelos
laboratórios do CMAT, por altura do Dia Internacional da Matemática, que se celebra
no Dia do Pi - 14/3. Os laboratórios do CMAT são o InLab, que trata das nossas
relações com a indústria, o OutLab, que coordena as nossas atividades de
divulgação, o PosLab, que trata de oportunidades para alunos de pós-graduação e
o CMAT Junior Group, que é um grupo de estudantes interessados em participar em
atividades organizadas pelo CMAT.
De que forma é que o centro interage com
a sociedade? Considera importante esta interação?
Consideramos muito importante a
divulgação da matemática junto do grande público. O centro concebeu e construiu
várias atividades de divulgação, mantendo um ciclo dinâmico de atualizações e
expansões. Através de oficinas práticas, exposições e programas de divulgação,
promove a literacia matemática, o pensamento crítico e a comunicação
científica. Também envolve os alunos nas atividades de divulgação,
proporcionando-lhes oportunidades de aprendizagem únicas e fomentando o seu
crescimento académico. A página web do centro apresenta várias atividades
criadas pelo OutLab, a equipa de divulgação. Destacam-se as escape rooms,
que têm tido impacto não só nas visitas às escolas, mas também em eventos de
grande dimensão para a sociedade em geral, como a Noite Europeia dos
Investigadores.
Quais os principais projetos e desafios
para os próximos tempos?
Na minha opinião, um ponto fraco do CMAT
é o facto de termos um número muito reduzido de investigadores de
pós-doutoramento. Espero que a FCT nos conceda algum financiamento programático
para contratar pós-doutorados, mas parece-me claro que isso não será suficiente
para resolver o problema. Talvez resultasse uma estratégia de incluir
sistematicamente bolsas ou contratos para pós-doutorados nas nossas
candidaturas em concursos para projetos de investigação.
Outro desafio é alargar a colaboração
com empresas na orientação de dissertações de mestrado a teses de doutoramento.
Neste momento, temos dois doutorandos com uma bolsa da FCT para doutoramento em
ambiente não académico. Seria bom aumentar este número.
No futuro, queremos também promover o
desenvolvimento de projetos de colaboração entre membros de diferentes grupos
de investigação, em que sejam explorados tópicos multidisciplinares.