Uma equipa científica, que inclui Tatiana Rappoport e Nuno Peres, do Centro de Física
da Escola de Ciências da Universidade do Minho, confinou radiação
infravermelha no volume mais pequeno de sempre. A inovação abre portas a
aplicações em áreas tão diversas como a dos metamateriais (materiais
artificiais com novas propriedades), a segurança (sensores no controlo de fronteiras) e
a espectroscopia molecular (deteção de pequeníssimas concentrações de
moléculas). O estudo saiu na reputada revista “
Science”, tendo a coautoria de
cientistas do Instituto de Ciências Fotónicas (Espanha), do Instituto
Tecnológico de Massachusetts (EUA), das universidades de Paris-Saclay (França)
e Duke (EUA) e o apoio do consórcio Graphene Flagship, financiado pela Comissão
Europeia.
Para
entender o impacto deste confinamento máximo da radiação infravermelha, um tipo
de radiação semelhante à usada num comando de televisão, basta lembrar que os
dispositivos eletrónicos – desde
smartphones a sondas
médicas e nano-satélites – têm milhões de transístores. Um transístor que
há 60 anos ocupava a palma da mão é hoje mil vezes menor do que a espessura de
um fio de cabelo. Os cientistas tentam reduzir ao máximo o tamanho dos
dispositivos que controlam e guiam a luz, pois esta pode ser um meio de
comunicação ultrarrápido entre, por exemplo, seções de um
chip e
em sensores ultrassensíveis. O desafio agora é criar técnicas para limitar a
luz a espaços milhões de vezes menores do que os atuais.
Dez
mil milhões de vezes menor
Sabe-se
que os isoladores (lentes de vidro, por exemplo) podem comprimir a luz na
escala espacial de um comprimento de onda. O grafeno, um condutor orgânico com
uma só camada de átomos carbono e propriedades óticas e elétricas excecionais,
permite “guiar” oscilações elétricas que interagem fortemente com a luz. Em
2018, também na “
Science”, parte da equipa científica referida mostrou pela
primeira vez como guiar a luz ao longo do grafeno, ou seja na espessura de um
só átomo. Para tal, criou um “lego” bidimensional de grafeno (condutor) e
nitreto de boro (isolante), encimado por hastes metálicas (como as colunas
romanas). Faltava agora confinar a luz infravermelha no mais ínfimo espaço a
três dimensões (“cavidade”) para
vermos a sua capacidade de interagir com pequenas moléculas.
Os cientistas espalharam então numa folha de grafeno, ao
acaso, cubos de prata tão
pequenos quanto 50 nanómetros. Depois, enviaram luz infravermelha, que se
propagou na “cavidade” formada entre o grafeno e cada nanocubo. Estes cubos
eram 200 vezes menores que o comprimento de onda da radiação incidente, mas a
sua interação gerou uma ressonância eletromagnética, ou seja um novo tipo
de antena, capaz de confinar espacialmente a luz infravermelha com muita
eficiência. Essa ressonância manteve o fluxo de energia eletromagnética na
“cavidade” num volume dez mil milhões de vezes menor do que o ocupado pela luz
infravermelha comum, algo nunca antes alcançado. O resultado da experiência
pode ser visto como o dito popular “meter o Rossio na Betesga”.
Autor da imagem: Matteo Ceccanti+Info: www.cf-um-up.pt,
www.fisica.uminho.pt,
www.ecum.uminho.pt,
graphene-flagship.eu/news/Pages/Smallest-cavity-for-light-realized-by-graphene-plasmons.aspx