terça-feira, 18/03/2025
Centro de Biologia Molecular e Ambiental da Escola de Ciências da UMinho
Ronaldo
Sousa, da Escola de Ciências da UMinho, foi o único português a participar
nesta investigação mundial.
Estabelecer
paralelos entre a migração humana e as invasões biológicas poderá ser enganador
e potencialmente prejudicial, principalmente no contexto político atual, com a
questão da imigração em debate nomeadamente na Europa e nos EUA. A conclusão é
de um estudo publicado na respeitada revista “Biological Reviews”, que contou
com investigadores das ciências naturais e sociais de 42 instituições de 23
países, incluindo o português Ronaldo Sousa, do Centro de Biologia Molecular e
Ambiental (CBMA) da Escola de
Ciências da Universidade do Minho (ECUM).
Embora
sejam fenómenos crescentes que envolvem movimento e adaptação a novos
ambientes, as invasões biológicas referem-se à introdução de espécies não
nativas e aos seus impactos ecológicos, enquanto a migração humana resulta de
fatores sociais, políticos, ambientais e históricos. Ronaldo Sousa considera
que o uso de terminologias da ciência da invasão – como “alienígena”,
“exótico”, “invasor” ou “erradicação” – para descrever a migração humana
“simplifica excessivamente a questão, reforça narrativas xenófobas e distorce a
perceção pública sobre os migrantes”.
Esta
investigação, intitulada “Paralelos e discrepâncias entre a introdução de
espécies não nativas e a migração humana”, mostra inclusive a forma como estes
temas têm sido retratados pelos políticos, que utilizam as invasões biológicas
para apresentar “a migração como uma ameaça, desumanizando os migrantes e
promovendo um discurso alarmista”, refere o biólogo da UMinho.
Ao
analisar casos históricos e as influências sociopolíticas da linguagem
utilizada, os investigadores destacam que, ao contrário das invasões
biológicas, que podem causar impactos ecológicos e socioeconómicos severos, a
migração humana sempre foi parte integrante da História da humanidade.
A solução poderá passar pela
implementação de uma abordagem interdisciplinar que conecte as ciências
naturais e sociais, garantindo que as políticas de migração e de gestão
ambiental sejam contextualizadas, cientificamente rigorosas e eticamente
fundamentadas, defende Ronaldo Sousa. O estudo pretende contribuir assim para a formulação de políticas que
respeitem a dignidade humana e incentivem a cooperação global.